Professor do PPGEduMat leciona a convite em Angola

Postado por: Carlos Santos

Quarenta e dois anos de dedicação à licenciatura não impediram o professor José Luiz Magalhães de Freitas, do Programa de Pós-graduação em Educação Matemática – PPGEduMat da UFMS, de se emocionar com pós-graduandos do curso de mestrado em Ciências da Educação, do Instituto Superior de Ciências da Educação (Isced) no Cuanza Sul, localizado em Sumbe (Angola), onde recém lecionou a convite.

Convidado pelo Programa angolano para ensinar na especialidade Ensino de Matemática, por indicação de um professor amigo, o pesquisador sênior José Luiz lecionou em 60 horas a disciplina Didática da Análise Matemática, durante duas semanas, na segunda quinzena de março último.

Em um país que há menos de duas décadas superou violenta guerra civil, as dificuldades não superam a motivação. Com 30 alunos em sala, alguns provenientes de regiões a 700 quilômetros de distância, o professor da UFMS encantou-se com a dedicação, respeito, disciplina, assiduidade e pontualidade dos pós-graduandos.  “Fiquei muito contente com o convite, é uma realidade que nunca pensei conhecer. No que concerne ao envolvimento dos alunos, minhas expectativas foram superadas largamente, sobretudo pela participação intensa durante as aulas e nas atividades propostas”, afirma o professor.

Para as aulas, José Luiz elaborou, com a participação do professor Mustapha Rachidi, do Instituto de Matemática (INMA) e colaboração da professora. Magda J. G. Mongelli (INMA), uma apostila direcionada ao grupo – com 120 páginas, enviada previamente ao coordenador do curso, contendo aspectos epistemológicos e didáticos dos conteúdos de conjuntos numéricos, com foco mais no conjunto dos números reais, funções reais, limite e continuidade de funções reais e possibilidades de articulações com outros conteúdos, bem como a generalização para espaços de outras dimensões. Por fim, foi abordado o conteúdo de derivadas e aplicações.

Professor José Luiz, ao centro (camisa azul), com turma de Mestrado

Com atividades individuais e em grupo, a disciplina de seis horas/aula por dia foi bastante intensiva. “Os conteúdos eram apresentados, discutidos e complementados com provas de algumas proposições enunciadas, bem como questionamentos e discussões envolvendo aspectos teóricos e atividades práticas. Algumas atividades eram deixadas como tarefa, outras eram realizadas em sala, sendo as produções recolhidas para serem avaliadas e retomadas na aula seguinte”, expõe o professor José Luiz.

No começo o professor tinha dúvidas sobre o que os pós-graduandos do Isced entendiam por análise matemática e precisou homogeneizar os conceitos. “Num país onde não se sabe o que eles não sabem, as atividades que eu passava eram uma forma de ir percebendo como deveria ajustar o curso. A matemática é a mesma, mas as ênfases não são exatamente iguais”.

Para exemplificar, o professor explica que no Brasil os alunos trabalham primeiramente com as disciplinas de cálculo e a análise matemática é apresentada ao final do curso de Matemática, como se fosse um tratamento mais teórico e rigoroso do cálculo. “Lá eles chamam tudo de análise matemática, que começa a ser estudada ainda no Ensino Médio, enquanto aqui está restrita a graduação”.

Os mestrandos aprenderam também um pouco da história da matemática, da epistemologia. Além de questões de didática, de forma a apresentarem, a partir das dificuldades de seus futuros alunos, problemas e situações que possam contribuir para que superem suas dúvidas. “Quando vamos trabalhar com limites, por exemplo, temos de variar as representações por meio das linguagens oral, escrita, gráfica, numérica e algébrica”.

Os pós-graduandos tiveram de apresentar um trabalho final, que foi corrigido já no Brasil. As anotações, com comentários e notas (de zero a 20), foram enviadas individualmente. “O trabalho era sobre temas da disciplina, dentro da abordagem dos conteúdos do Ensino Médio. Eles apresentaram textos bem escritos. Geralmente faziam mais do que o pedido, eram muito dedicados, tipo de alunos que qualquer professor gostaria de ter”, afirma.

Ao final do curso, o professor aplicou um questionário de avaliação da disciplina, sem identificação dos alunos, para apontamento dos aspectos positivos, negativos, bem como comentários e sugestões sobre o que foi realizado no período.

“O questionário mostrou que a avaliação deles foi muito positiva, tanto no que concerne à forma como a disciplina foi desenvolvida, quanto aos temas tratados. Um aspecto negativo apontado por alguns foi o curto tempo, que deveria ser maior. Fiquei admirado e emocionado com os depoimentos. Chegaram a dizer que foi um dos melhores cursos que tiveram”, completa.

O grupo e a coordenação do curso foram presenteados com uma vasta quantidade de livros de Matemática, em PDF, disponibilizados pelo professor José Luiz. “Eles possuem uma biblioteca muito pobre, pois têm dificuldade para comprar livros. Precisam ter material para se alimentarem”.

Paula Pimenta